Entrevista : Rita Tavares, a gargalhada mais contagiante do mercado de balões

Rita Tavares, brasiliense, 40 anos, casada, mãe de 3 filhos maravilhosos, decoradora e nas horas vagas, dentista. Mora atualmente em Stoughton, Massachusetts, e escreve toda semana uma coluna sobre decorações com balões chamada de “Decore com a Rita”, no jornal Metropolitan News (http://www.parkear.com/www.parkear.com).

A Rita Tavares descobriu a arte com balões quando ficou grávida da sua filha Júlia, a 7 anos atrás, e de lá pra cá, está sempre procurando desenvolver coisas novas. Ela sempre diz que “adora essa arte e acredita que a arte em si é uma manifestação divina, onde podemos exprimir os nossos sonhos e realizações”, seja lá o que isso quer dizer.....

Quem a conhece nunca se esquece do trauma de ter ouvido as suas gargalhadas, deixando inúmeros participantes do congresso Idéias Gigantes sem dormir, quando passava altas horas conversando com decoradores no lobby do hotel Holiday Inn na cidade de Curitiba. Além de conquistar amizades com a sua simpatia, sempre ataca no grupo GBA com suas mensagens de apoio. A seguir o ESBD fez uma entrevista com esta brasiliense na terra do Uncle Sam.

ESBD - Rita, o que você faz exatamente hoje nos EUA?

Rita - Atualmente ministro cursos de balões e faço decorações. Os cursos são bem temáticos, onde o aluno pode escolher o que quer aprender e desenvolver o cenário. Acredito que assim o aluno fica mais próximo e valoriza mais o trabalho.

ESBD - O que você acha do jeito brasileiro de decorar, que parece ser diferente do jeito americano?

Rita - O jeito brasileiro de decorar é único! Somos um povo criativo. O americano já é mais prático, mais rotineiro, prefere decorar usando apenas buques de balões com gás hélio. Quando se deparam com festas ou eventos decorados por um brasileiro, ficam apaixonados e se encantam. Acredito que hoje em dia o conceito de decorar para americano e brasileiro está mudando, o americano está mais próximo e mais flexível a usar balões em cenários e eventos, e estão adorando a idéia.

ESBD - Qual é a reação dos brasileiros que lêem os seus artigos no jornal?

Rita - Recebo todos os dias emails dessa região de Massachusetts, RI, NH. São brasileiros pedindo informações de cursos, decorações, idéias. Muitos perguntam sobre os decoradores no Brasil, por isso surgiu a idéia de colocar um artigo por semana descrevendo cada decorador. Acredito que essa coluna mudou alguns conceitos e esta cada vez mais popular por aqui. Sou a primeira brasileira a escrever uma coluna assim, dedicada apenas a essa arte, e isso faz com que os decoradores tenham mais credibilidade e mais criatividade. Trabalho como voluntária num programa de TV que se chama Bate Papo com Shirley, e lá, estou sempre colocando alguma decoração com balão, para que as pessoas possam ir mudando alguns conceitos. Esse programa é de entrevistas em português e inglês, o que nos coloca numa posição bem favorável em relação às mudanças.

ESBD - Como os americanos atribuem o trabalho de um decorador com relação aos brasileiros?

Rita - Nessa região de Massachusetts, os americanos ainda são conservadores, logicamente existem os que são mais flexíveis. Sempre me apresento de uma forma mais carismática, e isso acaba conquistando e fazendo muitos mudar de opinião. Hoje em dia, sou considerada aqui na minha região como uma artista, e isso eu devo aos americanos. Eles amam os trabalhos dos brasileiros e valorizam muito, alguns se sentem privilegiados por ter a oportunidade de ver esses trabalhos.

ESBD - O que você aconselharia a um brasileiro que quer hoje ir aos EUA trabalhar, com o dolar desvalorizado?

Rita - Hoje em dia vir morar aqui não está sendo fácil. A imigração está dificultando muito e todos os dias lemos nos jornais que uma grupo de 20, 30 40 brasileiros foram deportados. Alguns casos são horríveis, mães separadas de filhos e pais. Mas é um risco que muitos querem correr, visto que no Brasil a situação não é uma das mais favoráveis em termos de salário e emprego. Nos EUA as novas leis de imigração contra os latinos, brasileiros e etc, erguem muros da vergonha para impedir que as pessoas atravessem as fronteiras na busca de um futuro melhor, coisa que nosso país não está nos proporcionando. Acredito que a baixa do dolar possa vir a melhorar e acabar de ver com essa divisão que existe no Brasil, rico e pobre. Não podemos dar um passo para trás, temos que andar para frente, sempre! E só vamos conseguir isso quando o Brasil, que poderia dar lições de fraternidade e generosidade, coisas que são características na nossa cultura, parar de copiar outros países que são preconceituosos e intolerantes dentro do próprio território. Meu conselho é que se você tem documentos como Green card e etc, venham e aproveitem algumas oportunidades e mostrem que somos um povo diferente.

ESBD - É verdade que tem brasileiros retornando ao Brasil pela dificuldade de juntar economias nos EUA?

Rita - Com a pressão dos governos locais e a mudança da legislação, a vida dos brasileiros em situação irregular, está se tornando impossível. A possibilidade de uma recessão e a situação da moeda americana, esta fazendo com que os brasileiros voltem em massa para o Brasil com esperança de encontrarem um país mais organizado e com mais oportunidades de emprego. Muitos deles ao longo dos anos, conseguiram juntar seu "pé de meia" e acreditam que conseguirão viver na sua terra natal. Resumindo, as comunidades brasileiras perdem semanalmente famílias que voltam para o Brasil.

ESBD - Como é a colônia brasileira situada aos arredores de Boston?

Rita - Se formos comparar a comunidade local de 10 anos atrás e a atual, percebemos a grande mudança de comportamento. O brasileiro a 10 anos não pensava em se organizar, ou se adaptar a cultura local, a meta era trabalhar e mandar dinheiro para o Brasil. Hoje em dia, estamos vendo essa mudança com a organização da comunidade. Lojas, mercados, restaurantes, salões de beleza, jornais, mídia, e a própria Rede Globo, comprovam a adaptação da nossa comunidade ao estilo de vida americano. O número de brasileiros que tem o seu próprio negócio, sua casa própria, e que dominam a língua, é maioria.

ESBD - Como os seus filhos reagem ao fato de estar nos EUA?

Rita - No começo foi difícil, eles sentiam saudades da casa, dos avós, dos tios, da escola, enfim, sentiam falta de tudo que estavam acostumados, apesar de terem nascido aqui nos Estados Unidos, foram para o Brasil ainda pequenos. Hoje em dia, já estão na escola, falando o inglês e já estão começando a se adaptar. Falam no Brasil todos os dias, assistimos muito o canal brasileiro, escutamos músicas brasileiras.... não quero que eles esqueçam a nossa cultura, a nossa língua, mesmo porque, eles são mais brasileiros do que americanos, e amam a nossa terra.

ESBD - Qual a visão que os americanos tem do Brasil?

Rita - A imigração é tema principal das eleições presidenciais, com isso, todos, não somente os brasileiros, sofrem descriminação e preconceito. Quem vê cara não vê documento... para o americano, a aparência latina e o sotaque pesado, é motivo para um olhar desconfiado e desprezo. Eu tive uma experiência pessoal, uma caixa de uma loja de departamentos, uma loja grande e bem conceituada, me tratou com desprezo pelo simples fato que ela me ouviu falar em português com meu filho, a caixa resmungou dizendo em inglês que os latinos estavam invadindo o país dela. Chorei muito e voltei para reclamar com o gerente da loja, fizemos valer nosso descontentamento.

ESBD - Você pretende voltar ao Brasil em breve?

Rita - É uma meta da nossa família. Mas o que me trouxe de volta aos Estados Unidos foi a falta de oportunidades no nosso país, que apesar dos avanços nos últimos anos, as oportunidades são fracas e as nossas limitações culturais tornam difícil um recomeço, mas acredito que um dia voltarei para o lugar qie me sinto completa, meu Brasil. Estarei sempre indo visitar minha família.

A quantidade de fotos que a Rita enviou é enorme, Estamos colocando em uma sequência aleatória dos acontecimentos.

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